A dama de ferro de Israel - Santa Tereza Tem
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A dama de ferro de Israel

Por Jorge Fernando dos Santos 

Também conhecido como o “Sabá dos sabás”, o Yom Kippur (Dia do Perdão) é a data mais sagrada do judaísmo e ocorre anualmente no dia 10 do primeiro mês do calendário hebraico. Foi justamente nesse dia, em 1973, que os exércitos da Síria e do Egito atacaram de surpresa o Estado de Israel, impactando o mundo e deixando o governo da primeira-ministra Golda Meir à beira do colapso.

O dramático episódio é narrado no longa-metragem Golda: a mulher de uma nação, de Guy Nattiv, em cartaz em vários cinemas do país. Destaca-se no papel principal a atriz britânica Helen Mirren, numa das melhores atuações de sua vitoriosa carreira (que inclui a premiada performance como Elizabeth II). Pena que o público parece não ter descoberto o filme! Na última sexta-feira (2/9), a sessão noturna numa das salas do Shopping Del Rey, em BH, tinha seis gatos pingados na plateia.

Guy Nattiv faz uma reconstrução histórica imaginativa, sem se render à facilidade das cenas de ação repletas de efeitos especiais que tanto agradam aos fãs de filmes de guerra. Sabiamente, o diretor optou pela sutileza, ressaltando o lado psicológico e a tensão vivida pelos personagens durante o momento narrado. Isso coloca o espectador na mesma posição de ansiedade e expectativa da protagonista e seus assessores, trancados na sala de comando ou no gabinete ministerial.

Rica biografia

Helen Mirren – que tem tudo para disputar e vencer o Oscar de melhor atriz deste ano com sua magistral atuação – revive Golda Meir naquele que foi o instante mais dramático de sua rica biografia. Isto é, os longos dias da Guerra do Yom Kippur, na qual Israel perdeu centenas de combatentes e por pouco não teve seu território ocupado pelo inimigo.

Fumando desesperadamente durante todo o tempo, Mirren materializa a tensão e o estresse vividos pela personagem no auge do conflito. Somado ao desafio de vencer os árabes ou assistir à derrota definitiva do país que ajudou a fundar em 1948, a dama de ferro israelense lutava contra o câncer, inimigo para a qual perderia a guerra cinco anos depois.

Nascida em Kiev, em 1898, Golda Meir migrou para a Terra de Israel em 1921, atuando no sindicato Histadrut e no partido trabalhista Mapai. Antes de ocupar o cargo de primeira-ministra, foi a primeira embaixadora israelense na extinga União Soviética, ministra do Interior, das Relações Internacionais e do Trabalho, além de secretária geral do partido. O líder sionista David Ben-Gurion disse, certa vez, que ela era “o único homem do seu gabinete”. De certa forma, o filme de Nattiv reafirma isso.

Além de Mirren, destacam-se no elenco Camille Cottin (como a assistente Lou Kadar) e Liev Schreiber (como o secretário de Estado americano Henry Kissinger). Há que se ressaltar o excelente roteiro de Nicholas Martin. Além do recorte histórico preciso, ele enriquece a narrativa com nuances psicológicas em cenas intimistas bem construídas, que arrebatam o espectador do princípio ao fim.

*Jornalista, escritor e compositor, tem 46 livros publicados. Entre eles, Palmeira Seca (Prêmio Guimarães Rosa 1989), Alguém tem que ficar no gol (finalista do Prêmio Jabuti 2014), Vandré – O homem que disse não (finalista do Prêmio APCA 2015), A Turma da Savassi e Condomínio Solidão (menção honrosa no Concurso Nacional de Literatura Cidade de Belo Horizonte 2012).

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